Dúvidas práticas do dia-a-dia
Preciso colocar cateter sempre pra fazer quimioterapia?
Fora isso, colocamos cateter totalmente implantável quando há previsão de falha de acesso, ou seja, quando o paciente não conseguir ter veias que suportem todas as sessões ou que o coloquem sob risco do quimioterápico extravasar para pele ou tecido subcutâneo, o que pode gerar lesão importante. Sempre que possível, evitamos colocar o cateter para diminuir risco de infecção, trombose e o próprio custo da colocação, mas quando indicado, o cateter protege o paciente do risco de extravasamento ou de não ter acesso para a sessão de quimioterapia.
Preciso ficar limpando o cateter?
É importante que o cateter seja heparinizado idealmente entre 30 e 45 dias pela enfermagem para não correr o risco de obstruir. O cateter não impede o paciente de fazer atividade física, atividades ao ar livre e mesmo entrar na água quando não está ativo. Para melhor aconselhamento, deve-se pergunytar ao oncologista, cirurgião ou radiologista intervencionista sobre liberação para as atividades
Posso fazer exercício físico durante o tratamento?
Tomar suplementos vitamínicos ajudam na imunidade durante a quimio?
Vamos a alguns pontos:
Indicamos sempre o aconselhamento com nutricionista/nutrólogo com formação em oncologia para melhor esclarecimento
Há estudos que comprovam que o uso de antioxidantes PIORAM o prognóstico dos pacientes em tratamento. Uso de vitamina B12 e ferro antes e durante a quimio (quando não há deficiência ) foi a associado a maior mortalidade e maior recorrência de pacientes com câncer de mama que estavam em quimioterapia . (JCO Dec 2019)
Vitamina A e E foram associadas a maior mortalidade em pacientes fazendo quimioterapia em metanálise em pacientes tanto em químio quanto em radioterapia. Vitamina C e selênio não mostraram benefício e há preocupação com seu malefício pelo mesmo mecanismo. (Coch Database Syst 2012; Int J Cancer 2008)
Em pacientes que não estão em tratamento, os casos são avaliados individualmente junto aos profissionais da área.
Em resumo, vale sempre perguntar antes de iniciar medicamentos em pacientes oncológicos que a princípio podem parecer isentos de malefício.
Toda quimioterapia faz cair o cabelo?
Uma imagem muito associada a quimioterapia ou qualquer tratamento oncológico é a queda de cabelo (alopecia).
Porém, não é via de regra e vamos hoje falar de pontos relevantes.
Cada quimio tem a sua chance de alopecia, sendo algumas praticamente certas de cair e outras de não cair.
Alto índice de alopecia: AC, taxol ou docetaxel (ambas usadas em neo e adjuvancia para mama), carbotaxol (usada em pulmão e tumores ginecológicos), esquemas usados em linfomas e tumores germinativos (ciclofosfamida, ifosfamida)
Baixos índices: cisplatina isolada (associada a radioterapia), folfox (tumores gastrintestinais), Xeloda (usado em mama e tumores gastrintestinais), gencitabina
Há algo para fazer para prevenir?
Existe um recurso disponível em muitos lugares do Brasil, que são as toucas de resfriamento de couro cabeludo (scalp cooler) durante as sessões de químio. A função é gerar vasoconstrição e diminuir a chegada de quimio nos vasos que nutrem o cabelo.
Uma metanálise mostrou que reduz por volta de 40–60% a chance de queda importante. Outra mostrou que a taxa de alopecia significativa (mais de 50%) em pacientes que usaram a touca foi de 44%.
A taxa de sucesso depende do tamanho do cabelo, do comportamento quando fica molhado e no frio (mudança no contato com a touca) e da própria quimio, além de outros fatores.
Existem também medidas farmacológicas que auxiliam (por ex medicações como minoxidil, Calcitriol, finasterida) e o acompanhamento com dermatologista durante o processo pode ajudar bastante.
Ref: Int J Cancer 2015
Oncologist 2013
Posso me vacinar durante o tratamento?
Vacinas de agentes inativados (antitetânica, influenza, hepatite A, pneumocócica, HPV) devem ser dadas idealmente até 2 semanas do início da quimioterapia, mas podem ser dadas mais perto, pois a recomendação é pela redução da eficácia.
Vacinas de agentes atenuados (tríplice viral, febre amarela, herpes zoster) devem ser evitadas durante o tratamento imunossupressor ou se doença maligna não controlada. Idealmente, dadas 4 semanas antes (até 15 dias se esse prazo for inviável) ou 3 meses após o fim do tratamento.
Em resumo, ao diagnóstico, vacinação de influenza, pneumocócica (principalmente em pacientes acima de 60 anos) e COVID se ainda incompleta.
O melhor tempo para eficácia entre a vacinação e tratamento são 2 semanas.
Obs: adultos mesmo após início da vida sexual também se beneficiam da vacinação para HPV!
Fonte: Sociedade brasileira de oncologia clínica. “Vacinação no paciente oncológico”. 2021
Pacientes em transplante seguem recomendações específicas fora desse comentário.
Corro risco de engravidar durante a quimioterapia?
Sim, nem toda mulher que não menstrua, também não está ovulando. Portanto, mulheres em idade fértil devem realizar contracepção. (Mulheres com câncer de mama devem suspender métodos hormonais quaisquer).
A quimioterapia pode causar impotência?
A quimioterapia pode diminuir a libido, ou seja, a vontade de ter relações. Algumas medicações podem reduzir os níveis de testosterona e, com isso, alterar a função sexual. Entretanto, muitas vezes a parte psicológica pode ter um componente importante, além do próprio cansaço físico, não estando ligado a função erétil exclusivamente. Importante lembrar que mulheres, mesmo sem menstruar, podem engravidar durante a quimio, então encorajamos o uso de preservativos.
Com quanto tempo depois de terminar a quimio eu posso engravidar?
Isso depende de qual medicamento foi usado durante a quimioterapia, mas como segurança, recomendamos aguardar no mínimo 6 meses e idealmente 12 meses entre o término da quimio e a retomada das tentativas de gravidez.
Se eu já tive o câncer, adianta parar de fumar?
Preciso parar de consumir bebidas alcoólicas durante o tratamento?
Preciso parar de ver as pessoas durante a quimioterapia?

dr. Daniel Musse
Oncologia Clínica • CRM 52.99473-1 - RQE 43319
Pesquisador do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa e preceptor da residência médica de Oncologia Clínica.